Sonho de Valsa

Quando eu era criança, já sabia uma data muito importante: o dia do pagamento. Nesse dia, a minha mãe me deixava comprar “o que quisesse” no supermercado. Eu pegava a cestinha e lá no então, Supermercado Garça (que era um dos únicos que existiam na cidade), podia comprar bolacha recheada, Danoninho, bala de goma, todas essas coisas que a maioria das crianças adora.

Era mesmo uma experiência legal. Eu me lembro de andar nos corredores em busca de coisas gostosas. Me sentia poderosa e feliz. Mas, eu ficava com dó de fazer a minha mãe gastar bastante. E eu não pegava “tudo o que eu queria”.

Uma das coisas que eu gostava (e gosto) era bombom Sonho de Valsa. Até um tempo atrás, o bombom era embalado em papel alumínio. Agora, é um papel laminado que você desembrulha e já come.

Mas, na época que eu criança, eu desembrulhava com cuidado. Porque a minha mãe pegava o papel alumínio e fazia uma bailarina pra mim. Era sempre linda e como o bombom era de Sonho de Valsa, eu pensava naquela coisinha brilhante dançando… era parte do meu imaginário.

Cada vez a bailarina era mais bonita. Não sei como a minha mãe conseguia fazer tão linda ou se na verdade eu achava bonito, porque era ela que fazia…

Lembrei disso ontem e me deu saudade. Saudade dessas coisas pequenas e marcantes. Saudade da época que eu era criança, que o dia do pagamento era um dia feliz, que eu podia segurar na mão da minha mãe, comprar e andar com a cestinha sem fazer conta.

Deu saudade da minha mãe. E eu chorei…

Chata e maravilhosa.

Era ela.

Chata e criativa.

Era ela.

Chata e que faz tanta falta.

Era ela.

Chata e minha mãe.

Ela era…

Seu batom vermelho que me marcava o rosto do beijo de chegada e de partida.

Se descora com o tempo nas minhas lembranças.

E, de repente, ressurge.

Como se nunca tivesse se apagado.

Está marcado.


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