Retirando pregos enferrujados – Coluna nº 33

Guardamos tanta coisa dentro da gente que é preciso fazer uma faxina de vez em quando. Uma grande faxina mesmo, daquelas de lavar até o teto da alma. Lembrei de quantos ressentimentos temos guardado ao longo do tempo e que, vez por outra, aparecem martelando um prego gigante e enferrujado. Enfiando um pouco mais fundo no meio do coração da gente, onde a tortura é constante. Que coisa cruel e autodestrutiva! Por onde anda a nossa compaixão, a qual devemos ter conosco mesmos? Procura-se!!!! Embrenhemo-nos, portanto, para localizá-la.
Ressentir, na verdade, é sentir de novo: “re-sentir”. Mas o sentido está atrelado a tudo que é ruim, a mágoas, a chateações. Mas por que temos de ficar sentindo de novo tudo o que não faz bem? Por que tem tanta gente que, embora passado décadas, está lá martelando aquele prego dentro de si? Não é tão fácil, mas seria melhor inverter. Ir tirando o prego dali e recheando aquele rombo aberto ao sentir de novo tudo o que é bom. Lembranças gostosas, surpresas agradáveis, carinhos gratuitos, amizades sinceras. Frases, poemas, músicas. Cheiros. Daquele perfume gostoso ou do aroma do café da vovó. Quem sabe um cheiro de mato, de quando a gente era criança e rolava na grama? Ou o cheiro da chuva, as poças d’água que a gente corria para pisar e molhar a si e os outros, para depois levar bronca da mãe?
Lembro-me que quando chovia, passava muito tempo na janela da sala olhando as gotas de chuva que rolavam no fio de energia elétrica. Escolhia uma. Minha irmã outra. Era como se fosse uma corrida. Aí qual caía primeiro, perdia. Se bem que não havia perdas e ganhos. Era um jeito modesto e divertido de aproveitar a chuva, quando não se podia brincar lá fora e, por vezes, as tempestades também nos deixavam sem luz. A minha gota de chuva era rápida, mas também caía tão brevemente… Mas outras vinham e tudo recomeçava. Assim também somos nós: cheios de recomeços.  
Não dá para guardar mágoas indefinidamente. E vejo tanta gente abrindo gaveteiro dentro de si para guardá-las! Aí as mágoas ficam como aquelas roupas inservíveis que a gente não quer se desfazer e que também empatam qualquer energia boa. Mas, é preciso desapegar!  Desapegar e despregar o prego fincado indevidamente. Tirar dali aquilo que machuca, abrir espaço. Dar o braço a torcer e acabar com estas companhias indesejáveis. Deixemos que a compaixão assuma espaço. Que ela nos perdoe e nos acalente. Que nos dê força. Que seja nosso esfregão e nos ajude nesta faxina tão difícil de limpar as sujeiras dentro de nós.

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9 comentários sobre “Retirando pregos enferrujados – Coluna nº 33

  1. Lindo e verdadeiro. Ser feliz dá trabalho, é preciso retirar os pregos enferrujados. Mônica você é maravilhosa. Adorei. Um Abraço

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